quinta-feira, 23 de fevereiro de 2017

Autoavaliação

Quando iniciei o Blog estava muito apreensiva com o desenvolvimento da atividade. Elaborar um portfólio online nunca foi, na verdade, algo que eu teria feito voluntariamente. Entretanto, confesso que me dobrei a este instrumento logo após as primeiras aproximações. Aliás, aproximação é uma das palavras que representa bem o meu percurso durante a disciplina de Avaliação da Aprendizagem.

Durante toda a disciplina nos foram dadas oportunidades de aproximações sucessivas com diferentes conceitos associados à avaliação formativa e a diferentes instrumentos de avaliação. Eu, que venho de um sistema tradicional de ensino e, portanto, também de avaliações, me vi receosa em alguns desses momentos. É desconfortável sair de um terreno conhecido e encarar novas situações. E mais, na maioria das vezes não nos expomos durante os processos avaliativos. Na disciplina de avaliação de Aprendizagem trabalhamos com diferentes instrumentos de avaliação que, em muitos momentos, não eram individuais. Tivemos inclusive a oportunidade de, nós mesmos, definirmos critérios para a nossa própria avaliação. Penso nessa experiência sendo realizada com alunos de graduação e acredito que somente esta etapa da elaboração de um sistema de avaliação já causaria, na maioria dos alunos, algumas mudanças para o desenvolvimento de habilidades como a autonomia, responsabilidade, maturidade e confiança.

A exposição de ideias durante a disciplina também foi, para mim, um desafio.  Com o desenvolvimento da disciplina, percebi que não era propriamente exposição, mas sim um espaço para a discussão de temas baseados dos meus conhecimentos prévios e adquiridos. E mais... Eram momentos importantes para a desconstrução, modificação e ressignificação de conceitos.

Sobre a elaboração do Blog, antes de inicia-lo “de verdade” eu precisei repensar toda a disciplina. Dediquei um tempo para buscar na memória, nas minhas anotações e em textos trabalhados em sala de aula os conceitos de avaliação formativa. A partir deste momento, considerei que o Blog é uma atividade individual de avaliação e que, no entanto, é de livre acesso a quem interessar possa. É muita responsabilidade expor publicamente informações, conceitos e concepções sem embasamento adequado. Ao mesmo tempo senti que, por ser individual e um instrumento de avaliação contínuo, poderia expor a minha concepção e relacionar conceitos escolhidos por mim com o tema principal a ser tratado. E foi isso o que tornou a atividade gostosa, rompendo a barreira da obrigação e tornando-se uma atividade de formação.

Fico feliz por ter tido a oportunidade de fazer o meu primeiro portfólio online. Como já mencionei, essa atividade não teria acontecido espontaneamente e as aproximações sucessivas permitiram não apenas aprofundar o conceito de avaliação formativa, mas também ampliar este conceito sob a perspectiva de outras concepções.  

A pergunta principal apresentada, ou seja, se os docentes se preocupam com a postura dos alunos durante a realização de uma avaliação em busca da “resposta do gabarito”, é difícil acreditar, embora aconteça, que há docentes acomodados e/ou que desconhecem a concepção de avaliação formativa e, por este(s) motivo(s), não a utilizam. Entretanto, também acredito que muitos docentes estão sujeitos ao sistema educacional rígido e são reféns dos fenômenos acadêmicos, atuando de acordo com a proposta educativa do departamento e/ou instituição. Ainda que a preocupação exista, esta é uma situação em que o docente encontra espaço limitado para o desenvolvimento adequado de suas atividades, e encontra-se forçado a adotar o sistema de avaliação classificatória em detrimento da avaliação formativa.

Por outro lado, há profissionais comprometidos com a sua atividade e que, mesmo em condições adversas, afastam-se do conformismo, da passividade e da desistência e conseguem, de maneira criativa, planejar ações docentes intencionais que permitem a avaliação contínua, progressiva, baseada em critérios que permita não apenas acompanhar a evolução e estimular o pensamento crítico e reflexivo do aluno, mas também identificar possíveis falhas de planejamento, execução e/ou tomada de decisão do docente.

Enfim, estou muito satisfeita com a elaboração do portfólio online e já me vejo pensando em como adotar essa e outras estratégias/instrumentos de avaliação formativa na rotina da minha atividade docente.

quarta-feira, 22 de fevereiro de 2017

Síntese de texto

Avaliação e planejamento educacional: problemas conceituais e metodológicos


Maria Amélia Azevedo Goldberg

Cadernos de Pesquisa, n. 7, Fundação Carlos Chagas, São Paulo, 1973.

Este texto foi selecionado porque, apesar da data de publicação, apresenta conceitos claros que podem ser utilizados tranquilamente nos dias atuais. A abordagem baseia-se na apresentação de conceitos associados ao tema principal do artigo e permite a melhor compreensão do foco dado ao problema de investigação. O texto foi subdividido nas seguintes seções: A natureza do processo educacional, A sistemática do planejamento educacional, Conceituação de avaliação educacional, Relações entre o teste da eficácia e o “teste” de eficiência de um programa educacional.

Na seção intitulada A natureza do processo educacional a autora apresenta o conceito de educação, concebido como um processo de influência interpessoal [ensino], visando a produção de mudanças comportamentais no aluno [aprendizagem]. Assim, a produção de mudanças comportamentais depende do padrão de influências exercido sobre ele. Nesta seção são apresentadas as variáveis do processo ensino-aprendizagem, agrupadas em três classes: variáveis antecedentes, variáveis processuais e variáveis-produto.

Variáveis antecedentes abrangem as condições pré-existentes à interação professor-aluno. Entre essas estão as i) variáveis do professor, ou seja, aquelas inerentes à sua postura pessoal (atitudes, interesses, etc) e profissional (conhecimentos e habilidades específicas, rendimento, etc); ii) as variáveis do aluno, que incluem conhecimento prévio, atitudes e todo o potencial para a aprendizagem que o aluno traz consigo; iii) variáveis contextuais, constituídas pelo ambiente e condições externas que podem influenciar a interação professor-aluno, incluindo os aspectos sociais, econômicos e institucionais.

Variáveis processuais abrangem todas as interações professor-aluno e todas as formas pelas quais o aluno tem de lidar com material didático e entrar em interação com os demais elementos do grupo instrucional.

Variáveis-produto referem-se às mudanças comportamentais produzidas no aluno, refletindo modificações em conhecimentos, habilidades, interesses e atitudes.
A convergência e a inter-relação entre as três variáveis do processo ensino-aprendizagem deve ser mediada pelo professor que, por sua vez, deve ter o controle da situação. O planejamento educacional promove este controle.

Na seção A sistemática do planejamento educacional o conceito de planejamento é apresentado como um processo de controle que dirige e determina as ações de uma pessoa, em busca de um objetivo determinado. É um processo de tomada, execução e teste de decisões.
O planejamento deve constituir-se por decisões relativas a objetivos ou metas, que devem definir quais mudanças produzir no comportamento do aluno, e por decisões relativas a meios ou estratégias, ou seja, como produzir tais mudanças. Essas decisões, por sua vez, constituem-se nas etapas de elaboração e aprovação do plano.

O planejamento considera, ainda, o sistema de dados, sistema de previsão e sistema de valores. O sistema de dados elenca as alternativas disponíveis para o planejador e pode ser associada à probabilidade de suas consequências ou efeitos. O sistema de previsão é o conjunto de métodos ou técnicas para estimar as probabilidades. O sistema de valores representa a atribuição de valor às consequências de uma dada alternativa. Os sistemas de dados, de previsão e de valores possibilitam ao planejador a elaboração de critérios para a tomada de decisões acerca das metas e estratégias.

O planejamento é também um processo de execução. As decisões deverão traduzir-se em ações que, por sua vez, vão gerar resultados.

A validação da seleção adequada de objetivos e estratégias é dada pela avaliação educacional, ou seja, o julgamento dessa seleção é realizado por meio de avaliação que, de acordo com a autora, constitui-se o teste de racionalidade dos processos decisórios e executórios de um planejamento. A racionalidade dos processos decisórios depende dos momentos de avaliação denominados de i) avaliação diagnóstica, que antecede a elaboração de um plano ou programa; ii) avaliação “ex ante”, realizada entre as etapas de elaboração e aprovação do plano. A racionalidade dos processos executórios é assegurada pela i) avaliação “in processu”, que acompanha a própria execução do plano; ii) avaliação “ex post”, posterior à obtenção dos resultados.

A finalidade de todos os momentos de avaliação é produzir informações capazes de confirmar ou modificar as próprias decisões e ações dentro do planejamento, caracterizando-se como instrumentos autorreguladores do sistema.

Na seção de Conceituação de avaliação educacional, o conceito de avaliação educacional é dado como processo de coletar, analisar e interpretar evidências relativas à eficácia e eficiência de programas educacionais.

A eficácia de programa educacional refere-se ao valor e viabilidade de seus objetivos educacionais. Considerando o papel social da educação, o valor de um objetivo educacional será em função de sua utilidade social. Assim um programa educacional será mais eficaz quanto mais responder às demandas da sociedade como um todo a partir das mudanças comportamentais desejadas no aluno. A eficácia corresponde à aceitação e utilização pela sociedade do produto final do processo educacional, o egresso, quer seja no mercado de trabalho, no ingresso em níveis subsequentes de ensino ou para o desempenho de múltiplos papeis sociais.

Entretanto, a eficácia não significa a acomodação do sistema educacional ao sistema socioeconômico, sem modificação de suas demandas. As avaliações diagnósticas e “ex ante” são duas formas que o planejador, no caso o docente, tem de controlar a racionalidade e, portanto, a eficácia de suas decisões relativas aos objetivos educacionais. A avaliação diagnóstica permite ao planejador se informar sobre a realidade em que vai intervir/comportamento de entrada do aluno (sistema de dados), das linhas tendenciais de desenvolvimento/evolução (sistema de previsão) e do que deve ser (sistema de valores), o que lhe permite a formulação de critérios para orientar as suas ações no sentido de superar deficiências ou estimular as excelências diagnósticas, fundamentando suas decisões sobre metas e estratégias.

Na medida em que o diagnóstico visa capacitar o planejador para a tomada de decisões valiosas e realistas, é importante também avaliar as disponibilidades operacionais e/ou recursos disponíveis no contexto em que ele irá atuar e dos prováveis obstáculos/resistências que irão surgir para a garantia da viabilidade das decisões a serem tomadas.

A eficiência de um programa educacional também diz respeito aos seus objetivos educacionais, ou seja, se estes estão sendo ou foram atingidos pela maioria dos alunos, da melhor maneira possível. A avaliação da eficiência de um programa educacional é realizada por meio da avaliação “in processu”, que implica na fiscalização ou controle da etapa executória do programa, a fim de determinar i) se a execução segue o que foi planejado; ii) o investimento em termos de esforço, tempo e custo; iii) a interferência dos fatores não previstos. Já a avaliação “ex post” visa saber se os objetivos educacionais atingidos foram de fato produzidos pelo programa educacional, permitindo ao planejador que ele mantenha, reforce ou modifique o planejamento desenvolvido, na dependência dos resultados obtidos na avaliação.


Na seção Relações entre o teste da eficácia e o “teste” de eficiência de um programa educacional a autora reforça que qualquer programa de ensino-aprendizagem, para ser considerado eficaz, deve definir hierarquicamente seus objetivos e garantir e compatibilização entre eles, numa cadeia de meios e fins. A hierarquia de objetivos deve corresponder a uma hierarquia de resultados possíveis, que serão tanto mais mediatos quanto mais gerais os objetivos a que corresponderem e vice-versa. Através do teste de eficiência, os objetivos-meio terão também comprovados sua eficácia ou sua racionalidade funcional. Assim, o teste de eficiência pode vir a ser também um teste de eficácia de um programa educacional. 





Educação escolar e resiliência: política de educação e a prática docente em meios adversos


Indinalva Nepomuceno Fajardo, Maria Cecilia de Souza Minayo,
Carlos Otávio Fiúza Moreira

Ensaio: Avaliação e Políticas Públicas em Educação, Rio de Janeiro, v. 18, n. 69, p. 761-774, 2010

Este artigo foi selecionado porque trata da resiliência na educação escolar, tendo como referência os professores em sua prática profissional. A resiliência “permite aos profissionais da educação encarar de outra forma a evolução de seus alunos” (Poletti; Dobbs, 2007, p. 17).

O texto inicia-se com a apresentação de diferentes conceitos de resiliência que indicam a diferenciação de objetos, materiais e seres vivos por sua capacidade de resistência em relação a outros elementos que a eles são semelhantes. O processo de resiliência para o ser humano caracteriza-se por um conjunto de processos sociais e intrapsíquicos que possibilitam à pessoa ter uma vida saudável em condições adversas; conjunto de qualidades que favorecem o processo da adaptação criativa e a transformação a partir dos riscos e adversidades. Este processo sofre a influência da família, dos suportes sociais e da educação.

Há professores que apresentam maior resistência aos fatores agressores encontrados na prática, criando alternativas para controlar os desafios e responder às dificuldades, reagindo às adversidades e mostrando-se capazes de recuperação das agressões sofridas. Esses profissionais detêm características que fortalecem a resiliência. É imprescindível que a escola desdobre todo o potencial e recursos ao seu alcance para conseguir uma comunidade educativa inclusiva e resiliente. Seis passos que estimulam a construção de características próprias de um docente resiliente:


Seis passos que estimulam a construção de características próprias de um docente resiliente, de acordo com Hendersen e Milstein (2005)

Sete passos para o desenvolvimento da resiliência, de acordo com Wolin e Wolin (1993):
Enriquecer os vínculos;
Determinar limites claros e fortes;
Ensinar habilidades para a vida;
Proporcionar afeto e apoio;
Estabelecer e transmitir expectativas elevadas;
Proporcionar oportunidades de participação significativa.
Tomada de consciência, ou capacidade de identificar os problemas e suas raízes e procurar soluções;
Independência, baseada na capacidade de estabelecer limites entre si mesmo e as pessoas próximas, não se deixando envolver pela corrente adversa;
Desenvolvimento de relações satisfatórias com os outros;
Iniciativa que permite se controlar e controlar seu ambiente tendo prazer ao realizar atividades construtivas;
Criatividade, ou seja, capacidade de pensar de forma diferente dos outros e encontrar refúgio num mundo imaginário quando necessário;
Humor, cujo objetivo é diminuir a tensão interior e desvendar o lado cômico das tragédias;
Ética, como guia da ação, e frente ao risco de viver com base nesses valores.

A escola protetora e os sujeitos resilientes no ambiente educativo

Boa parte dos professores da escola pública brasileira constitui exemplo de pessoas resilientes. Essa qualidade aparece com graus diversificados que podem ser alterados pela educação e formação continuada dos professores, criando-se formas de superação dos problemas coletivos, incentivando a autodescoberta, o autoconhecimento e a automotivação.

Diversos autores ressaltam a importância da resiliência na educação escolar, pois para eles, a escola é um dos espaços promotores de resiliência mais potentes que a sociedade pode implementar, por apresentar duas condições importantes. A primeira, porque agrupa distintos sistemas humanos; a segunda, porque articula a pessoa do professor ao aluno dentro de uma perspectiva de desenvolvimento humano, de proteção, e não de fatores de risco.

Depois da família, a escola é o meio fundamental e essencial para que as crianças, na sala de aula, adquiram as competências necessárias para ter sucesso na vida, por meio da superação das adversidades. Portanto, saber lidar com as formas de promover a resiliência é a chave para a educação cumprir objetivos fundamentais tais como formar pessoas livres e indivíduos responsáveis.

Para se construir uma escola resiliente, é preciso que os professores sejam instados a compreender a importância de desenvolver estratégias de fortalecimento das pessoas e sejam preparados para isso, sabendo lidar com situações estressantes e adversas. para que haja o desenvolvimento de competência, habilidades e estratégias para o fortalecimento dos sujeitos resilientes no ambiente educativo, é essencial privilegiar o presente, o aprender a aprender abrindo-se, assim, um leque maior de mecanismos de proteção. Por isso, a transformação da escola em uma comunidade resiliente exige um olhar atento do docente, tendo autoconfiança, persistência, criatividade, bom humor, liderança, capacidade de produzir conhecimento, relacionamento interpessoal e capacidade de sonhar. O professor tem que desenvolver, em si, a capacidade de se libertar dos trilhos que construíram suas representações de escola e de educação. Pensar escola na sociedade contemporânea é pensar em reorientar o ser humano no mundo, é reconfigurar o espaço e o tempo de aprender e ensinar, é reelaborar a cultura pessoal e profissional.

As contribuições da resiliência para uma educação em crise

No campo educacional brasileiro hoje, os professores, em sua grande maioria, são reféns de uma situação na qual não conseguem ser ouvidos como profissionais sérios e capazes. Porém, também os docentes costumam estar mais aptos a apontar os “nós” do sistema do que enfrentá-los, mesmo porque, são vistos como meros executores de tarefas. A crescente frustração que domina os profissionais da educação gera prejuízos que os atingem e estão à vista de todos: desmotivação pessoal e elevados índices de absentismo e de abandono, insatisfação profissional traduzida numa atitude de desinvestimento e de indisposição constante.

A resiliência como o processo de lidar com acontecimentos vitais dissociadores, estressantes ou amenizadores proporciona ao indivíduo destrezas protetoras e defensivas. A escola pode contribuir ao dar condições ambientais que promovam reações resilientes perante circunstâncias imediatas, assim como enfoques educativos, programas e currículos adequados para o desenvolvimento de fatores protetores individuais. Ao investir na resiliência do professor, uma administração escolar sábia está fomentando o êxito escolar e social dos alunos.


Concluindo, a resiliência na ação docente se consolida com a valorização, pelo próprio professor, da importância de fortalecer uma atuação dialógica, crítica, ética, participativa e colaborativa, que lhe permita refletir sobre suas decisões, criando-se, desta forma, um ambiente de suporte afetivo e emocional necessário para trabalhar. Para tanto, há necessidade de realizar pesquisas que contribuam para que o país dê um salto qualitativo em conceitos e propostas que torne a escola um fator importante nas transformações requeridas pela sociedade contemporânea.

segunda-feira, 20 de fevereiro de 2017

Associação dos conceitos apresentados com Avaliação Formativa

Mapa conceitual


Aqui eu faço a relação dos conceitos apresentados com avaliação formativa por meio de mapa conceitual. Entretanto, esclareço que tenho a consciência de que a concepção de avaliação formativa não se resume somente aos conceitos apresentados. 




Mapas conceituais dos conceitos: Intencionalidade e Planejamento

Conceito de Intencionalidade








Conceito de Planejamento






Mapas conceituais dos conceitos de Assertividade, Resignação e Resiliência

Conceito de Assertividade








Conceito de Resignação








Conceito de Resiliência





quinta-feira, 16 de fevereiro de 2017

"Another brick in the wall – Parte II" (Pink Floyd)




Aproveito este espaço para trazer uma música muito conhecida por diferentes gerações. Embora não esteja diretamente associada à Avaliação da Aprendizagem, considero que a avaliação formativa é progressiva, contínua, portanto a rotina e o ambiente escolar influenciam, e muito, os processos de avaliação.

"Another Brick In The Wall (Part II)"

We don't need no education
We don't need no thought control
No dark sarcasm in the classroom
Teachers leave them kids alone
Hey teacher leave them kids alone
All in all it's just another brick in the wall
All in all you're just another brick in the wall

[chorus at end by pupils from the Fourth Form Music Class Islington Green School, London]

We don't need no education
We don't need no thought control
No dark sarcasm in the classroom
Teachers leave them kids alone
Hey teacher leave us kids alone
All in all you're just another brick in the wall
All in all you're just another brick in the wall



Another Brick in the Wall” é o título de um conjunto de três canções, parte do rock ópera do Pink Floyd, “The Wall”, de 1979. As canções foram escritas por Roger Waters, baixista e principal compositor de Pik Floyd. “Another Brick in the Wall” é dividida em três partes subintituladas “Parte I” (Memórias), “Parte II” (Educação) e “Parte III” (Drogas) e se tornaram algumas das mais famosas da banda.


Another Brick in the Wall – Parte II”



A “Parte II” é um protesto contra a educação escolar rígida em geral e internatos em particular. A canção foi lançada também foi lançada como single e deu à banda a posição de número 1 isolada no Reino Unido, Estados Unidos, Alemanha Ocidental e muitos outros países. Com a “Parte II”, Pink Floyd recebeu uma indicação para o Grammy de “Melhor Performance de uma dupla ou grupo de Rock”. Além disso, a “Parte II” ficou na 375ª posição na lista das “500 maiores músicas de todos os tempos” da revista Rolling Stone. O single vendeu mais de 4 milhões de cópias no mundo inteiro. Em Israel, a “Parte II” foi escolhida como a melhor canção de rock dos anos 80 (apesar de ter sido lançada antes de 1980), em uma pesquisa feita pela “Israel Army Radio” uma das principais estações de rádio no final de 1989. Por outro lado, o single e o álbum “The Wall”, foram banidos na África do Sul em 1980 depois da canção ter sido adotada por simpatizantes de um boicote de âmbito nacional que protestava contra desigualdades raciais na educação (http://whiplash.net/materias/curiosidades/104201-pinkfloyd.html).

terça-feira, 14 de fevereiro de 2017

Para assistir, ler e refletir...





Entrevista com o educador Celso dos Santos Vasconcellos sobre Avaliação.


Recomendo, ainda, a leitura de dois textos complementares, que se utilizam de linguagem acessível e dão respaldo às colocações apresentadas neste Blog durante todos esses dias. Um dos textos foi elaborado por Janssen Felipe da Silva, Professor adjunto e coordenador do curso de Pedagogia do Núcleo de Formação Docente do Centro Acadêmico do Agreste da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). O texto intitula-se “Avaliação Formativa Reguladora: Intencionalidade, Características e Princípios” e foi inicialmente publicado no livro organizado pela Professora Maria Helena da Costa Carvalho intitulado Avaliação da Aprendizagem: da Regulação à Emancipação – Fundamentos e Práticas. Recife: Bagaço, 2006. Disponível em: http://www.construirnoticias.com.br/avaliacao-formativa-reguladora-intencionalidadecaracteristicas-e-principios%C2%B9/.

O segundo texto trata-se, na verdade, de uma entrevista realizada pela Revista Nova Escola com o educador Celso dos Santos Vasconcellos, Doutor em Educação pela USP, Mestre em História e Filosofia da Educação pela PUC/SP, Pedagogo, Filósofo, pesquisador, escritor, conferencista, professor convidado de cursos de graduação e pós-graduação, responsável pelo Libertad - Centro de Pesquisa, Formação e Assessoria Pedagógica. Disponível em: http://acervo.novaescola.org.br/img/planejamento/celso.doc.


Para refletir... 



O que o aluno “tira” da escola depende apenas dele? Ou apenas do docente?



segunda-feira, 13 de fevereiro de 2017

Intencionalidade, Planejamento e os sistemas de avaliação

Outros dois conceitos que estão intimamente relacionados à concepção de avaliação formativa são Intencionalidade e Planejamento. Os sistemas avaliativos claramente dependem da intencionalidade do docente.

Entende-se a Intencionalidade Pedagógica como sendo toda a ação consciente, planejada e executada pelo professor/educador, acomodada dentro do cenário pedagógico (salas de aula ou qualquer outro ambiente no qual seja possível o ato de ensino e aprendizagem), determinado como espaço relacional dos que ensinam e dos que aprendem. Assim, pode-se afirmar que a Intencionalidade Pedagógica é toda a intenção direcionada que vai além da mera transmissão pura de conteúdo pelo conteúdo. Envolve, claramente, a atitude e a postura do professor/educador, além do domínio de determinadas habilidades de ensino capazes de conduzir o participante do processo a aprender. Portanto, Intencionalidade Pedagógica é toda a ação consciente do professor/educador visando uma ambientação para conduzir o aluno a aprendizagem. (Negri, 2016).

Muitos dos profissionais da área da educação passaram pelo processo de formação didático-pedagógico necessário para cumprir com seus deveres e obrigações como docentes. Espera-se que esses profissionais estejam travestidos dos principais conceitos que regem as práticas docentes para a qualidade do processo ensino-aprendizagem. Entretanto, na educação superior nem sempre esta é a realidade.

O docente da Educação Superior, na dependência do curso de graduação, nem sempre passa por formação didático-pedagógica para atuar como docente. As exigências para que o docente atue na Educação Superior são os cursos de pós-graduação Stricto sensu, que em teoria, preparam os futuros profissionais da e para a academia. Acontece que a formação esperada nem sempre se cumpri. Muitos dos docentes universitários pouco ou não conhecem os conceitos de docência e as suas implicações.

Neste sentido, reproduzo aqui as perguntas apresentadas pela professora da Unicamp, Elisabete Monteiro de Aguiar Pereira (2015):

Ao exercer a atividade docente, particularmente no nível da educação superior, o professor deve responder para si algumas perguntas: Como eu quero ser professor? Que formação quero dar ao aluno? Para qual universidade, ou seja, para que tipo de instituição de educação superior? Para que tipo de sociedade? Com que ideia de conhecimento estou trabalhando?

Ao responder essas perguntas, o docente começa a pensar qual a sua intencionalidade, ou seja, quais ações ele deve conscientemente planejar e executar para a promoção de um processo ensino-aprendizagem de qualidade. Resgatando o problema de investigação, ou seja, a preocupação dos docentes em relação à postura dos alunos durante a realização de uma avaliação em busca da “resposta do gabarito”, pode-se dizer que boa parte deste comportamento apresentado pelos alunos pode estar associada à (falta de...) intencionalidade do docente. E aí, mais uma vez, apresento alguns fatores já comentados anteriormente e que possam levar a essa falta de preocupação docente com os sistemas avaliativos.

Como muitos docentes não tiveram a oportunidade de formação específica para a docência, muitos não sabem que as suas ações podem e devem ser norteadas pela intencionalidade. Alguns entendem a importância de sua atividade e, mesmo que inconscientemente, organizam-se para que cumpram os seus objetivos. Entretanto, há aqueles profissionais que entendem que foram bem formados pelo sistema tradicional de ensino e, portanto, não precisam repensar as suas ações, que são desprovidas de planejamento intencionado para a condução real do participante para o processo de aprender. Afinal, a mera intenção de intervir e interpretar um estímulo não garante a real atenção necessária para a aprendizagem.

Os processos avaliativos também devem ter intencionalidade. A intencionalidade ocorre quando o mediador, neste o caso o docente, orienta deliberadamente a interação numa direção escolhida, selecionando, moldando e interpretando o estímulo específico. É como se o mediador colocasse uma lente de aumento sobre um estímulo em particular para focá-lo melhor e distingui-lo de outros estímulos. Produzir bons e adequados instrumentos para coletar dados na avaliação da aprendizagem dos educandos, sem subterfúgios, sem enganos, sem complicações desnecessárias, sem armadilhas, significa preparar uma avaliação intencional e bem planejada. Esse processo de avaliação requer instrumentos e estratégias que i) ofereçam desafios, situações-problema a serem resolvidas; ii) sejam contextualizadas, coerentes com as expectativas de ensino e aprendizagem; iii) possibilitem a identificação de conhecimentos do aluno e as estratégias por ele empregadas; iv) possibilitem que o aluno reflita, elabore hipóteses, expresse seu pensamento; v) permitam que o aluno aprenda com o erro; vi) exponham, com clareza, o que se pretende; vii) revelem, claramente, o que e como se pretende avaliar (Paraná, 2008).  

Vejam que isso exige dedicação maior do profissional tanto de tempo quanto de planejamento, o que pode representar um desafio para muitos docentes, especialmente para aqueles que estão presos no paradigma tradicional de ensino ou acomodados com a situação. As consequências da falta de intencionalidade nos processos avaliativos recaem sobre os alunos, uma vez que as avaliações podem gerar dúvidas, insegurança, incertezas e instabilidades.

Sob os aspectos do planejamento, temos que:

Planejamento define-se como um processo de controle, já que ele dirige e determina as ações de uma pessoa, em busca de um objetivo determinado. Por essa razão, podemos concebê-lo como um processo de tomada, execução e teste de decisões, decisões essas que estão, por assim dizer, cristalizadas em im plano. O plano ou programa é, nesse sentido, o instrumento do planejamento. (Goldberg, 1973, p. 64).

Para que o sistema avaliativo seja formativo e não classificatório, o planejamento deve ser fundamentado em dois pilares: objetivos/metas e estratégias (Goldberg, 1973). Isto pode representar mais um desafio para a avaliação da aprendizagem. Como mencionei em outros trechos, muitos docentes não possuem formação didático-pedagógica. Assim, atuam preocupados com uma dimensão técnica, caracterizado por um modelo profissional docente que aplica com rigor as regras que derivam do conhecimento científico, para atingirem determinados fins pré-definidos (Lemos, 2009). Nesses casos, a prática docente consiste na re(solução) instrumental de problemas, mediante a aplicação rigorosa de um determinado conhecimento teórico e técnico previamente produzido; ensinar resume-se à mera aplicação de normas e de técnicas derivadas de um conhecimento especializado (Morgado, 2005 apud Lemos, 2009). Acredito que, para profissionais com este perfil, o planejamento das avaliações seja direcionado exclusivamente à verificação do domínio e da capacidade de aplicação do conhecimento técnico.

Outro problema que pode ocorrer nos processos avaliativos é o planejamento de objetivos e estratégias que não consideram e/ou respeitam as possíveis diferenças individuais dos alunos.

Percebemos que o indivíduo está sempre suscetível a mudanças, sejam elas em planos internos ou externos do seu organismo. Cabe ressaltar que ao entrar em sala de aula, nos deparamos com alunos que apresentam inúmeras adversidades físicas, cognitivas e afetivas que, se analisarmos criticamente, podem assim se apresentar pelo fato de terem sofrido defasagens ou ausências dos fatores internos e externos que possibilitariam o seu desenvolvimento. Portanto, devemos ter cautela no processo de avaliação, pois as instituições de ensino, pais e professores tendem a usar modelos igualitários de avaliação, apesar da diversidade de etapas evolutivas em que se encontram esses alunos. (Assis; Fernandes, 2009, p. 9)

Nesses casos, é possível que os alunos apresentem diferentes sentimentos, incluindo o de decepção, incerteza, insegurança e/ou instabilidade. 

O planejamento para avaliação formativa deve considerar alguns aspectos. Além dos objetivos relacionados às expectativas do docente, o planejamento deve respeitar o currículo e o projeto político-pedagógico do curso. Assim, a prática de planejar deve contemplar o educacional, o curricular e o ensino, ultrapassando a dimensão técnica e integrando-se à dimensão político-social. O ato de planejar, assim assumido, deixará de ser um simples estruturar de meios e recursos, para tornar-se o momento de decidir sobre a construção de um futuro (Luckesi, s.d.). A partir dos dois conceitos, é praticamente impossível desvincular a intencionalidade e o planejamento. O ato de planejar é a atividade intencional pela qual se projetam fins e se estabelecem meios para atingi-los. Por isso, não é neutro, mas ideologicamente comprometido (Luckesi, s.d., p. 4).

O ser humano age em função de construir resultados. Para tanto, pode agir aleatoriamente ou de modo planejado. Agir aleatoriamente significa "ir fazendo as coisas", sem ter clareza de onde se quer chegar; agir de modo planejado significa estabelecer fins e construí-los através de uma ação intencional. Os fins, sem a ação construtiva, adquirem a característica de fantasias inócuas; a ação aleatória, sem fins definidos, desemboca no ativismo. (Luckesi, s.d., p. 1)

Ainda em termos de avaliação formativa, o planejamento do docente deve ter critérios claros e bem-definidos, tanto para o docente quanto para os alunos, previamente estabelecidos. Geralmente, os critérios são definidos a partir da vivência com os alunos. Quando os critérios são definidos previamente a análise dos dados coletados é regular e apreciativa. Do mesmo modo, a elaboração do instrumento de avaliação deve compor o planejamento e ser pensada a partir do objetivo do conteúdo, com o perfil do aluno e/ou da turma, com os critérios. É importante permitir que o aluno se situe na questão para que ele a responda adequadamente, inclusive por meio de enunciados claros.




Outro aspecto importante no planejamento das avaliações formativas é prever os instrumentos de avaliação a serem utilizados. Para isso, deve-se considerar que os alunos aprendem de diferentes maneiras e, por este motivo, é interessante oportunizar diferentes instrumentos a fim de permitir que os alunos se expressem à sua melhor maneira. Assim, concluo que o planejamento adequado da avaliação formativa permite previsibilidade, consistência, rotina e conhecimento, sem surpresas, dúvidas, insegurança, incertezas e instabilidades para docente e alunos. A partir do planejamento bem pensado é possível reforçar a autoestima de todos os atores; determinar intervenções que permitam a superação das lacunas e dificuldades e determinar elementos não previstos que tenham contribuído de maneira positiva ou negativa para o processo ensino-aprendizagem.




Assis, R.M., Fernandes, R.G.S. A avaliação escolar: intencionalidade, formas e instrumentos. Revista eletrônica do curso de pedagogia do campus Jataí – UFG, v. 1, n. 6, p. 1-19, 2009.

Goldberg, M.A.A. Avaliação e Planejamento Educacional: problemas conceituais e metodológicos. Cadernos de Pesquisa, n. 7, Fundação Carlos Chagas, São Paulo, 1973.

Lemos, J.C.G. Do encanto ao desencanto, da permanência ao abandono: o trabalho docente e a construção da identidade profissional. Tese de Doutorado. São Paulo, Pontifícia Universidade Católica, 2009, 315 p.

Luckesi, C.C. Planejamento e Avaliação na Escola: articulação e necessária determinação ideológica, s.d., 12 p. Disponível em: http://www.crmariocovas.sp.gov.br/pdf/ideias_15_p115-125_c.pdf.

Negri, P.S. a intencionalidade pedagógica como estratégia de ensino mediada pelo uso das tecnologias em sala de aula. 2016. Disponível em: http://www.labted.net/single-post/2016/05/30/ARTIGO-A-INTENCIONALIDADE-PEDAG%C3%93GICA-COMO-ESTRAT%C3%89GIA-DE-ENSINO-MEDIADA-PELO-USO-DAS-TECNOLOGIAS-EM-SALA-DE-AULA-1

Paraná. Secretaria do Estado de Educação. Avaliação – um processo intencional e planejado. Disponível em: http://www.gestaoescolar.diaadia.pr.gov.br/arquivos/File/sem_pedagogica/fev_2010/um_processoIntencional.pdf


Pereira, E.M.A. Docência na universidade ultrapassa preparação para mundo do trabalho. In: Cervi, G.M., Rausch, R.B. (orgs). Docência Universitária: concepções, experiências e dinâmicas de investigação. Xanxerê, SC: Meta Editora. 2014. Disponível em: https://www.revistaensinosuperior.gr.unicamp.br/artigos/docencia-na-universidade-ultrapassa-preparacao-para-mundo-do-trabalho.

domingo, 12 de fevereiro de 2017


Assertividade e a avaliação formativa




Com base nos estudos desenvolvidos pela pesquisadora Vera Martins (2005, p. 21), têm-se que assertividade é uma palavra derivada de asserção, que significa afirmar, confirmar, consolidar e declarar com firmeza. De acordo com Martins (2005, p. 22):

Entendemos assertividade como uma manifestação da possibilidade dialética de comunicação “eu ganho e você ganha”, ou seja, uma comunicação criativa, transparente, por meio da qual as pessoas expressam suas necessidades, seus pensamentos e sentimentos de forma honesta e direta, sem violar os mesmos direitos dos outros. Quando conseguimos expressar os nossos pensamentos, sentimentos e vontades sem agredir o outro, sentimo-nos leves e satisfeitos. Esse bem-estar é resultado da comunicação assertiva, constituída por pensamentos, sentimentos e ações que afirmam nosso eu.

Pessoalmente, para mim é muito fácil correlacionar os conceitos de avaliação formativa e assertividade, uma vez que a avaliação formativa prevê a abertura de espaço para o diálogo a partir da regulação e do feedback informativo, o que, consequentemente, promove a autorregulação, a ressignificação e a satisfação tanto do docente quanto do aluno.

“Uma pessoa assertiva vence pela influência, atenção e negociação, oferecendo ao outro a opção pela cooperação. Não oferece retaliações e estimula a comunicação de mão dupla” (Martins, 2005, p. 25). Mais uma concepção de assertividade intimamente relacionada ao conceito de avaliação formativa.




Resignação e a avaliação formativa



Resignação é um conceito controverso, de duplo sentido. Resignação é a tendência que uma pessoa tem de aceitar uma situação adversa. A controvérsia vem da possibilidade da aceitação ser negativa ou positiva. Desta maneira, nos resignamos diante de algo negativo quando somos capazes de assumir. Certos acontecimentos trazem consequências que podem ocasionar grande impacto emocional ou um sentimento de injustiça (uma desilusão amorosa, um amigo que nos engana, a morte de um ente querido ou uma demissão no trabalho sem nenhuma justificativa). Diante destas circunstâncias dolorosas e difíceis de assumir há duas possíveis reações: o desespero, a tristeza profunda e a rebeldia; por outro lado, entender que as situações adversas acontecem e por isso temos que aceitá-las (https://conceitos.com/resignacao/).

Aceitar as situações adversas pode se tornar uma necessidade em diversos momentos da vida. Nos processos de ensino-aprendizagem isso não é diferente. Mantendo o foco no assunto aqui tratado, muitas vezes a resignação diante dos processos avaliativos é necessária. Entretanto, isso pode ocorrer por diferentes motivos e, consequentemente, a resignação pode ser para o bem ou para o mal. 

As reformas educacionais neoliberais, envolvendo gestão, currículo e formação de docentes, por exemplo, direcionadas à competitividade e à valorização de conhecimentos necessários aos setores produtivos e mercadológicos submetem a educação a critérios de eficácia econômica (Lemos, 2009).

a escola passa a ser alvo de constantes investidas, a fim de garantir uma configuração mais próxima ao reordenamento exigido por essa perspectiva globalizante: as escolas adotam o modelo empresarial como referência de organização, alunos e pais perdem o status de cidadãos e convertem-se em clientes, propaga-se um discurso de subordinação da escola aos ditames econômicos, intensifica-se o controle externo da escola por políticas de avaliação que geram mecanismos de classificação, o fracasso escolar passa a ser encarado como uma questão meramente administrativa, entre outros (Lemos, 2009, p. 33).

Nestes casos, vemos a resignação de muitos docentes, que são forçados a aceitarem a situação imposta e submeterem-se ao sistema.

Por outro lado, há aqueles docentes que procuram novos caminhos através de um processo de revalorização pessoal e ressignificação do processo ensino-aprendizagem e buscam melhorar suas práticas docentes, mesmo sob condições adversas. É importante destacar que:

avaliação na aprendizagem como resultados baseados em notas, não classifica a capacitação do aluno ou a incapacitação do professor, é importante saber que determinadas avaliações não interferem no processo de aprendizagem, pois o aluno pode não ser excelente em algumas disciplinas e pode se destacar em outras, este fator depende da individualidade de cada aluno, pois cada um apresenta seu grau avaliativo, ou seja, o aluno sabe identificar em qual área se destaca mais ou menos e isto acaba se tornando um processo avaliativo individual (Cruz, 2013, p. 130).

Para que a avaliação seja formativa deve-se estabelecer critérios de avaliação a partir da convivência que permitam verificar a compreensão, o entendimento do conhecimento acerca de assunto ou tema. É importante que os determinantes do processo avaliativo e os instrumentos sejam definidos previamente, com objetivos claros tanto para o docente quanto para os alunos.

Nos casos em que o sistema educacional é mais rígido, muitas vezes é difícil a previsão de diferentes instrumentos avaliativos. Assim, cabe ao docente ser criativo para não fugir da situação adversa à qual está submetido e, ainda assim, permitir a qualificação adequada de seus alunos, promovendo oportunidades para a avaliação individual e coletiva de suas atividades enquanto docente e da formação de seus alunos. 



Cenas do filme O Triunfo, de 2006. Baseado em um personagem real, o educador Ron Clark, ele é centrado no personagem título, um professor de uma pequena cidade, que se muda para Nova York e tenta fazer uma diferença nas vidas de seus alunos, apesar de ninguém, incluindo os próprios estudantes, acreditar nele. Ron Clark é um jovem professor, criativo e idealista, sai de sua pequena cidade da Carolina do Norte para ensinar, em uma escola pública de Nova York. Através da utilização apaixonada de regras especiais para a sua sala de aula, ensinando técnicas altamente inovadoras e uma inesgotável devoção aos seus alunos, Clark é capaz de fazer uma notável diferença nas vidas de seus alunos.


Resiliência e a avaliação formativa



O conceito de resiliência faz referência à capacidade do ser humano responder de forma positiva às situações adversas que enfrenta, mesmo quando estas comportam risco potencial para sua saúde e/ou seu desenvolvimento. Esta capacidade é considerada por alguns autores como uma competência individual que se constrói a partir das interações entre o sujeito, a família e o ambiente e, para outros, como uma competência não apenas do sujeito, mas, também, de algumas famílias e de certas coletividades. Trata-se, portanto, de um fenômeno complexo, atrelado à interdependência entre os múltiplos contextos com os quais o sujeito interage de forma direta ou indireta e sobre o qual incide diferentes visões. (Silva et al., 2003, p. 147-148)

Rutter (1999) refere-se à resiliência como uma relativa “resistência” manifestada por algumas pessoas diante de situações consideradas potencialmente de risco psicossocial para seu funcionamento e desenvolvimento. A resiliência é um conceito importante, com muitas possibilidades de aplicação.

A partir do problema de investigação, ou seja, a preocupação dos docentes em relação à postura dos alunos durante a realização de uma avaliação em busca da “resposta do gabarito”, das duas concepções de resiliência apresentadas e transpondo o conceito para os processos de avaliação, acredito que a resiliência pode contribuir para o ensino-aprendizagem a partir das adversidades que docentes e alunos se deparam ao longo do processo. A ideia de que a resiliência pode representar resistência de algumas pessoas diante de algumas situações me faz pensar no docente que não quer pensar em instrumentos de avaliação que favoreçam o ensino, a crítica, a reflexão do conhecimento adquirido e o direcionamento para novos rumos. Muitos docentes que atuam na academia são formados pelos métodos tradicionais de ensino, em que as aulas são ministradas como palestras, com pouco ou nenhum espaço aberto para o diálogo e/ou argumentação. Eu suponho que uma parte desses docentes acredita que foram formados pelos métodos tradicionais, conseguiram concluir a sua formação e são profissionais de sucesso; portanto, por que mudar se deu tudo certo até agora? Consequentemente assumem que aquele modelo é o certo e que não há necessidade de revisá-lo. Assim, mantêm o aluno como mero receptor das informações, tornando-o capaz de reproduzi-las, sem incentivá-lo a questionar, debater. Os sistemas de avaliação desses docentes costumam seguir o mesmo tradicionalismo, sendo baseados em avaliações que exigem a memorização, na premiação com base na nota ou punição quando há nota inferior. Quando são questionados sobre os diferentes instrumentos de avaliação, prontamente respondem que promovem seminários, pedem relatórios de aulas ou passam trabalhos de pesquisa para serem feitos fora da sala de aula. Entretanto, a forma como essas atividades são orientadas e conduzidas, em muitas situações, não promovem a aprendizagem integral. Para mim, estes fatos permitem imaginar a situação confortável para esses docentes, em relação aos sistemas tradicionais de avaliação, para o planejamento, execução e correção dos instrumentos de avaliação utilizados. A palavra correção aparece intencionalmente destacada, porque no sistema avaliativo descrito não há determinantes pré-estabelecidos e/ou critérios claros para a avaliação efetiva do processo ensino-aprendizagem; há apenas a coleta de informação, a verificação (geralmente com gabaritos) e posterior atribuição de nota. Ao mesmo tempo, entendo que é muito difícil para uma pessoa que já passou por todos os processos de formação e atuam profissionalmente na atividade docente deixar ou abrir mão daquilo que fez parte de sua formação.

Um fato importante para se destacar e considerar é que, em muitas situações, os docentes tornam-se reféns dos fenômenos acadêmicos, atuando de acordo com a proposta educativa do departamento e/ou instituição e, consequentemente apresentando uma identidade aparentemente inadequada de atuação.

Por outro lado, quando penso na concepção apresentada por Silva et al. (2003), acredito que o aluno que passou por sistemas de avaliação classificatórios devem aprender com suas experiências. De acordo com Moraes (2014, p. 291)

é no tempo e no espaço da formação que o futuro educador deve vivenciar inúmeras experiências que o ajudem a (re)construir novas crenças embasadas em conhecimentos científicos para que ele possa sair da universidade com concepções diferentes das de quando entrou.

Assim, a reconstrução dos sistemas avaliativos de classificatórios para formativos representariam a capacidade do aluno em responder de forma positiva à situação adversa de avaliações que vivenciou durante o seu percurso de formação. Aproveito aqui para retomar uma frase das minhas primeiras postagens: aprendemos com os nossos professores o que fazer e o que não fazer. Portanto, recomendo aos alunos de hoje que repensem as suas experiências, sejam elas boas ou ruins; se autorregulem; ressignifiquem e usem os exemplos de forma positiva para a sua (re)construção. Isso se aplica aos sistemas de avaliações e para tudo em nossas vidas.






Cruz, J.A.S. Ensino superior: as avaliações como forma de reflexão no aprendizado. Cadernos de Educação, Tecnologia e Sociedade, v. 4, n. 1, p. 127-136, 2013.

Lemos, J.C.G. Do encanto ao desencanto, da permanência ao abandono: o trabalho docente e a construção da identidade profissional. Tese de Doutorado. São Paulo, Pontifícia Universidade Católica, 2009, 315 p.

Moraes, D.A.F. A prova formativa na Educação superior: possibilidade de regulação e autorregulação. Est. Aval. Educ., São Paulo, v. 25, n. 58, p. 272-294, 2014.

Rutter, M. Resilience concepts and findings: implications for family therapy. Journal of Family Therapy, v. 21, p. 119-144, 1999.

Silva, M.R.S., Elsén, I., Lacharité, C. Resiliência: concepções, fatores associados e problemas relativos à construção do conhecimento na área. Paidéia, v. 13, n. 26, p. 147-156, 2003.

Martins, V.L.F. Seja assertivo! 6ª ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2005, 236 p. (https://books.google.pt/books?id=TR4BwkFg0qoC&pg=PA3&hl=pt-BR&source=gbs_selected_pages&cad=2#v=onepage&q&f=false)