sexta-feira, 10 de fevereiro de 2017

A ressignificação da docência através da avaliação

O percurso do CEMAD tem me permitido a aprendizagem crescente a cerca da docência. Tivemos disciplinas nas grandes áreas de Filosofia, Políticas educacionais, Psicologia e Formação de professores. Entretanto, as disciplinas da grande área de Didática, mais especificamente a disciplina de Avaliação da Aprendizagem foi uma das que mais me encantou.

O que eu sabia sobre avaliação? A palavra avaliação imediatamente me lembrava de prova, nota. Para mim, avaliação sempre foi um sistema complicado de percepção de aprendizagem. Complicado para docentes e alunos. Enquanto aluna, eu me preocupava em aprender o conteúdo e, com o tempo, poder utilizar o conhecimento para a prática profissional. Mas quando chegava a hora da prova, eu confesso que não pensava no aprendizado, mas me concentrava na nota. Muitas vezes até me pegava fazendo as contas do quanto eu deveria ter de nota para garantir passar de ano. E mais, para conseguir a nota, eu pensava “o que será que o meu professor espera que eu responda?” Não no sentido de considerar o meu aprendizado, mas pensando em reproduzir exatamente o que o gabarito diria.

Depois que comecei a atuar como docente passei a ver as avaliações com outros olhos. Para mim, avaliação deveria mostrar o que o aluno aprendeu com as aulas e até onde ele poderia ir com aquele conhecimento. Consequentemente, eu poderia identificar não apenas o percurso de formação do aluno, mas também as minhas próprias falhas no processo de ensino. E aí, mais uma vez, usei os meus professores como referência na hora de elaborar as provas. Mais uma vez, vi que não concordava com a maneira como alguns conduziam a elaboração e correção das avaliações.

 A disciplina de Avaliação da Aprendizagem ampliou ainda mais meus horizontes. Passei a ver as avaliações como aliadas e instrumentos de potencialização do processo de ensino-aprendizagem. Aprendi, com palavras simples, a definir as diferenças entre avaliação e verificação. E ainda aprendi um novo termo associado a esse tema: notação, no sentido de atribuir nota.

Em todos os encontros da disciplina eu me peguei pensando muito, muito mesmo... E, novamente, me vi encantada com as diferentes maneiras pelas quais podemos exercer a docência. E quantos instrumentos diferentes podemos usar para isso...!!! Isso inclui as avaliações.

Existem dois tipos de avaliação: classificatória e formativa. Nas avaliações classificatórias o que se nota é a verificação, constatação e/ou quantificação do conteúdo. A ação é pontual, imobilizadora, seletiva e o resultado final é a constatação, o congelamento (Luckesi, 2002). Luckesi (2002) ressalta que a prática escolar usualmente denominada avaliação da aprendizagem pouco tem a ver com avaliação. Ela se constitui muito de mais na utilização dos instrumentos de provas e exames, uma vez que são mais fáceis de serem executadas, do que de avaliação.

Quando, através da avaliação, o aluno demonstra que aprendeu o conceito ensinado, o professor considera que já realizou o seu papel de “ensinante” e passa a dizer o novo conteúdo do programa. Nesse tipo de relação de ensino, o que se requer do aluno é o aprendizado do conceito enunciado, geralmente, através de memorização. Isso, normalmente, propicia ao aluno o resultado necessário para sua aprovação na disciplina, no ano e no curso, porém não garante o “apropriar-se” (Anastasiou, s.d, p. 10).

Por outro lado, a avaliação formativa baseia-se na ideia de estabelecer juízo de valor sobre algo que é relevante a fim de permitir a tomada de posição/decisão. De acordo com Luckesi (2002, p. 33):

Avaliação pode ser caracterizada como uma forma de ajuizamento da qualidade do objeto avaliado, fator que implica uma tomada de posição a respeito do mesmo, para aceitá-lo ou para transformá-lo. A avaliação é um julgamento de valor sobre manifestações relevantes da realidade, tenso em vista uma tomada de decisão.

A avaliação formativa não é pontual, mas dinâmica, integrativa, buscando a situação mais satisfatória e trazendo o aluno para dentro do processo de aprendizagem, uma vez que permite mapear dificuldades e necessidades reais dos alunos, verificar falhas no processo de ensino, propor regulações e permitir a autorregulação. Assim, a avaliação formativa auxilia na proposição de estratégias para a superação das atividades. A prova representa um bom instrumento desde que ela seja discutida com os alunos. Para isso, a prova deve ser pensada como avaliação formativa desde a sua elaboração, a fim de permitir entender se os objetivos do docente estão sendo alcançados. Uma das grandes diferenças entre avaliação classificatória e formativa é justamente o que se faz após a coleta de informações, ou seja, a análise dos dados e a tomada de decisão. Na avaliação classificatória, o professor verifica o instrumento, muitas vezes com base em um gabarito rígido, engessado, faz a notação e encerra aquela etapa de conteúdos. Na avaliação formativa é permitido tanto ao aluno quanto ao docente acompanhar, por diferentes instrumentos de avaliação, o percurso de formação do aluno em relação a um tema ou assunto, assim como a ressignificação da aprendizagem de maneira integrativa.




Mapa conceitual elaborado a partir da concepção de avaliação formativa durante a disciplina de Avaliação da Aprendizagem – CEMAD, 2016, pelo grupo de alunos: Andressa Tatielle, Cassilda, Felipe Casonato, Patrícia Sandrini e eu.


Vou me permitir (e arriscar...) fazer uma analogia das avaliações formativas com o conceito proposto por William Glasser, no qual acredito muito. Quando pensamos a avaliação devemos, antes de tudo, pensar no objetivo maior da docência: ensinar. De acordo com William Glasser (1925-2013) o professor é um guia para o aluno e não um chefe, e os conceitos são facilmente esquecidos quando os trabalhos são conduzidos com base na memorização. Como alternativa, Glasser sugere que os alunos efetivamente aprendem fazendo. De acordo com Glasser, aprendemos 10% quando lemos, 20% quando ouvimos, 30% quando observamos, 50% quando vemos e ouvimos, 70% quando discutimos com outros, 80% quando fazemos, 95% quando fazemos. Agora, pensando na pirâmide de aprendizagem sob a perspectiva da avaliação formativa (desculpem-me a ousadia) e utilizando como exemplo a prova como instrumento de avaliação, podemos dizer que para fazer a prova o aluno lê muito, portanto, hipoteticamente, essa leitura contribui com os 10% iniciais; posteriormente a prova é corrigida juntamente com os alunos, o que lhes proporciona ouvir e ver o conteúdo trabalhado mais uma vez, portanto contribuindo para os 50% a mais de aprendizagem. Entretanto, o feedback informativo é uma das estratégias que mais contribuem para a aprendizagem significativa, uma vez que promove a oportunidade de conversar, perguntar, repetir, relatar, numerar, reproduzir, recordar, debater, definir, nomear, permitindo ao aluno a autorregulação e a ressignificação do conteúdo.  Enfim, a avaliação formativa, também sob a perspectiva da teoria de Glasser, permite promover mudanças na direção de rumos, na solução de problemas, na pesquisa, na ampliação contínua e gradativa de conhecimentos, respeitando o nível de complexidade que se vai exigir do aluno ao longo do curso. Assim, a avaliação formativa exige memorização, elaboração e construção pessoal nas interpretações e transferências para novas situações.

Em minha opinião, este é um dos mais importantes processos de ensino-aprendizagem. E descobrir este e outros caminhos nesta direção definitivamente é, para mim, a ressignificação da docência.

“A boa educação é aquela em que o professor pede para que seus alunos pensem e se dediquem a promover um diálogo para promover a compreensão e o crescimento dos estudantes” 
(William Glasser)


Anastasiou, L.C.G. Ensinar, aprender, apreender e processos de ensinagem. Disponível em: http://www.cfn.org.br/wp-content/uploads/2015/09/Oficina-3-Desafios-do-trabalho-docente-na-avaliacao-processual-Conteudo-utilizado-1.pdf. Acesso em 10 Fev. 2017.

Luckesi, C.C. Avaliação da aprendizagem escolar. 13º ed. São Paulo: Cortez, 2002.


Um comentário:

  1. Me sinto lisonjeada em saber que a disciplina de Avaliação foi significativa para você.
    Adorei a analogia que você fez, faz muito sentido. Não conhecia a pirâmide, achei bem interessante.

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