quinta-feira, 9 de fevereiro de 2017

A desconstrução da docência

A docência... Aahhh... A docência!!! Eu me lembro de quando era criança em que muitas das minhas amiguinhas falavam que queriam ser professoras. As amiguinhas da minha filha, e ela própria, também sonhavam com isso. O professor desperta esse interesse nas crianças. Talvez porque seja a profissão com a qual elas tenham maior contato, que sabem como é praticada (vamos ignorar o ideal de práticas didáticas neste momento...). Talvez pela presença da professora lá na frente, expondo conhecimentos, enquanto todos estão calados ouvindo... Talvez porque o professor saiba “todas as respostas”... Não é fascinante para as crianças?

Por outro lado, eu sempre tive a impressão, e aqui reforço que esta é (era...) a minha opinião, de que a docência na Educação Superior remete a um certo status. Afinal, se para uma criança o professor domina todos os saberes, imagine na academia... Tem que ser muito bom para ser professor universitário, a começar pela sua formação. Não basta ter licenciatura, tem que ter pós-graduação lato sensu, stricto sensu... E quantas mais, melhor! Realmente não é para qualquer um. E aí começa a desconstrução.

A vontade de atuar na docência me fez buscar, primeiramente, as origens e definições das palavras “docente” e “professor” em diferentes fontes. Seguem alguns resultados:
Docente: s.m. pessoa que ministra aulas; o responsável pela aprendizagem. Adj. Relacionado com quem ensina e ministra aulas; que trabalha como professor. Que diz respeito à categoria cujas pessoas estão envolvidas no ensino de uma doutrina religiosa; que ensina os preceitos, normas e/ou regras religiosas (https://www.dicio.com.br/docente/).
O vocábulo “docente” veio do latim docens, docentis que era o particípio presente do verbo latino docere que significa "ensinar". Este verbo veio da raiz indo-europeia dek, dak, de que dimanam, através de transformações materiais e semânticas, os verbos gregos dékomai, didásko, dókeo, com inúmeros derivados. Docente seria aquele que ensina, instrui e informa. Sua datação, na Língua Portuguesa, seria de 1877 (http://www.dicionarioetimologico.com.br/docente/).

Professor: s.m. Indivíduo que ensina, ministra disciplinas, matérias, numa escola ou universidade; docente. Aquele cuja especialização ou formação acadêmica é ensinar; mestre. [Figurado] Quem sabe muito sobre um assunto ou coisa; perito. Quem professa uma crença ou religião. Adj. Que possui título de professor ou se especializou na área do ensino.
A etimologia da palavra professor começa com o verbo latino, profiteri (declarar, professar). Para entender a origem desta palavra, temos que ver como este verbo é conjugado em latim. É muito simples: no indicativo perfeito, futuro do indicativo perfeito, mais-que-perfeito indicativo, subjuntivo mais-que-perfeito e subjuntivo perfeito, a palavra profiteri transforma-se em professus ou professi. Estas duas palavras, mais tarde, transformam-se, em latim, na palavra singular e nominativa professor (plural: professores) (http://english-ingles.com/pt/etimologia-da-palavra-professor/).

Portanto, eu concluo que, por definição e de maneira bem simples, o professor “professa”, enquanto o docente “ensina”. Eu já gostava mais da palavra docente em relação a professor; agora, então, gosto ainda mais!

Até aí, tudo bem. A pergunta seguinte foi: onde eu consigo um manual? Parece engraçado, mas eu queria muito saber como ser docente. Não no sentido admissional em uma Instituição de Ensino Superior, mas pensando em como ser um bom docente. Pensei nisso de diferentes formas... E busquei as referências que eu tinha; neste caso, os meus professores da graduação, já que a minha intenção é atuar na academia. Pensei em cada um deles e sob diferentes aspectos. Primeiro, pensei nas metodologias: todas iguais, com aulas expositivas, alguns seminários em grupos e prova como sistema de avaliação. Um ou outro passava trabalhos para serem feitos em casa. Depois pensei na utilização dos recursos: todos usavam o quadro negro e a maioria usava transparências ou slides. Pensei em como era feita a motivação dos alunos para que, de maneira autônoma, buscassem informações complementares e/ou adicionais sobre um determinado tema: não consegui me lembrar de nada. Pensei, ainda, na atitude dos professores: havia aqueles que eram acessíveis, com quem podíamos conversar sem dificuldades; aqueles que víamos muito pouco fora de sala de aula; aqueles que faziam questão de mostrar quem mandava; aqueles que apresentavam apenas os resultados de suas pesquisas como material de referência de estudo; os arrogantes; os metidos; os enturmados; os que queriam se enturmar; os que não se misturavam; os indiferentes. Também tive, durante o meu percurso de formação, professores inspiradores, seja por sua didática, pela sua postura, pela paixão pela disciplina demonstrada em sala de aula, por suas ações em cenários de prática, por transmitirem segurança, por estimular o desenvolvimento de habilidades... Cheguei à conclusão de que, pensando em ser docente, APRENDEMOS COM OS NOSSOS PROFESSORES O QUE FAZER E O QUE NÃO FAZER.

Em tempo, tive a certeza de que bom senso não se ensina, mas se aprende.

Ao mesmo, pensei na formação docente. Durante o Mestrado e Doutorado, fazemos a disciplina obrigatória de Estágio de Docência na Graduação. A disciplina prevê a participação supervisionada em aulas práticas e teóricas do curso de graduação em Medicina Veterinária, treinamento de estagiários de iniciação científica, outras atividades correlatas a critério e supervisão do orientador e da Comissão Coordenadora do Programa. E aí eu me pergunto: quantas vezes eu fui supervisionada nas minhas aulas? E, ainda que tivesse sido, qual é a formação didático-pedagógica do docente responsável pela supervisão para que ele possa efetivamente contribuir para a minha formação como docente? Isso levanta outra questão: o que é formação didático-pedagógica e como ou onde conseguir essa formação para ser docente na minha área?

Enfim, essas e muitas outras questões me fizeram ver que a docência não é exatamente o que eu conhecia e entendia. A docência estava, para mim, desconstruída, a partir do momento em que realizei que esta é uma atividade muito mais complexa e que exige o interesse real da pessoa, com comprometimento profundo não apenas com o aluno, mas com a sociedade. Sem status, sem vaidade, sem ego.

Agora vocês já sabem por que eu escolhi fazer o curso de especialização em Docência na Educação Superior.

Um comentário:

  1. A ideia do manual é boa, também já pensei nisso.
    Infelizmente o seu relato é o de grande parte dos estudantes, poucas experiências diversificadas que mobilizem o estudantes e o conduzem a complexificação do pensamento.
    Você conhece o livro Pedagogia da Autonomia do Paulo Freire, se sim, sabe a que me refiro, se não, sugiro como leitura.

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